quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Dados Profissionais


Originalmente estudou para ser padre, fez seus estudos clássicos, ingressando na Faculdade de Teologia de Toulouse em 1767. Desistiu da vida religiosa e passou a estudar matemáticas, mas, posteriormente, optou pela medicina, uma carreira tradicional em sua família.
Cursou a Faculdade de medicina de Toulouse e aos 28 anos, em dezembro de 1773, recebeu seu diploma. No ano seguinte foi aperfeiçoar seus conhecimentos de medicina em Montpellier, onde, por quatro anos, freqüentou a escola de medicina e os hospitais. Fazia trabalhos acadêmicos para estudantes, deu cursos particulares de matemática e de anatomia.
Em 1777, apresentou dois trabalhos sobre aplicação de matemática ao estudo da anatomia humana para a Société Royale des Sciences de Montpellier, da qual foi nomeado membro correspondente.
Ao chegar em Paris, em 1778, sustentou-se por muitos anos fazendo traduções científicas e médicas, e ensinando matemática. Nesse período, também visitava doentes mentais confinados e escrevia artigos sobre suas observações.
Inicialmente clinicou e somente passou a se interessar pela psiquiatria por volta de 1780, aos quarenta anos, devido à preocupação em socorrer um amigo, vítima de psicose maníaca aguda. Porém, somente por volta de 1786 tratou de doentes mentais, contratado por Belhomme para atender em sua clínica para doentes mentais aristocratas.
Tornou-se amigo do filósofo e fisiologista Pierre Jean Georges Cabanis (1757-1808) e do médico Michel-Augustin Thouret (1748-1810) que viria a ser posteriormente, em 1794, o primeiro diretor da Ecole de Santé de Paris, depois de reformada pela Revolução. Cabanis o introduziu aos salões de Madame Helvetius, viúva do filósofo Claude-Adrien Helvétius (1715-1771), onde conheceu o embaixador americano Benjamin Franklin (1706-1790) que negociava o apoio dos franceses contra a Inglaterra, para a independência das colônias americanas. Mme. Helvétius reunia em sua casa um grupo de filósofos mais tarde conhecidos como "os ideólogos", e lá, Pinel conheceu as doutrinas de John Locke (1632-1704) e Étienne Bonnot de Condillac (1715-1780), as quais o influenciaram fortemente no sentido da abordagem científica da doença mental.
Em 1784, assumiu a Direção da "Gazette de Santé", que lhe passou Jean-Jacques Paulet, diretor da faculdade de Medicina. Nesse periódico publicou vários artigos relativos a doenças mentais, escritos também para o Journal de Paris. Também ocupou-se de várias traduções e revisões para os editores franceses.
Em agosto de 1793, por influência dos amigos Cabanis e Thouret, foi nomeado médico-chefe do Asilo de Bicêtre, por decreto da Convenção. Em Bicêtre, destinado a doentes mentais masculinos, eram reunidos sem distinção loucos e criminosos. Os loucos eram mantidos acorrentados em celas baixas e úmidas, fossem eles perigosos ou não.
Pinel valorizava a experiência diária dos funcionários do estabelecimento, a qual ele considerava importante para ajudar a compreender certos aspectos das doenças mentais. O chefe dos guardas do asilo, Jean-Baptiste Pussin, cujos procedimentos observava com atenção, inspirou-lhe medidas humanitárias em benefício dos doentes, principalmente a de libertá-los das correntes, tratá-los como doentes comuns e, em caso de crises de agitação e violência, aplicar apenas a camisa de força. Pinel permaneceu em Bicêtre de 1793 a 1795.
Em dezembro de 1794, com a reforma da universidade, o governo da Convenção Nacional criou três escolas de saúde, e Pinel foi nomeado professor adjunto de medicina interna para a escola de Paris. E em 1795 tornou-se professor de patologia médica, uma função que manteve por vinte anos.
Ainda neste ano Pinel foi nomeado médico chefe do Hospício da Salpêtrière, um asilo feminino onde as doentes eram tratadas do mesmo modo como havia encontrado em Bicêtre. Lá ele aplicou os mesmos métodos e obteve igualmente bons resultados, como livrar as doentes das correntes que as prendiam, muitas por 30 a 40 anos.
Pinel corretamente considerou as doenças mentais como resultado ou de tensões sociais e psicológicas excessivas, de causa hereditária, ou ainda originadas de acidentes físicos, desprezando a crendice entre o povo e mesmo entre os médicos de que fossem resultado de possessão demoníaca. Ele seguiu idéias já avançadas por contemporâneos seus como Tuke, Chiarugi e Daquin. William Tuke (1732-1822) foi um comerciante de café e chá, e um filantropo, que fundou em 1792 um hospício em York na Inglaterra para dar tratamento humanitário aos doentes mentais; Chiarugi foi o médico diretor do Asilo Bonifacio, em Florença, onde em 1788 ele aboliu o tratamento desumano dos pacientes; e Joseph Daquin (1733-1815) o médico francês, de Chambéry, que havia estudado em Turin, na Itália, e que em seu La philosophie de la folie, em 1787 propôs um "tratamento moral" para os doentes mentais.
Pinel, no entanto, foi o primeiro a distinguir vários tipos de psicose e a descrever as alucinações, o absentismo, e uma série de outros sintomas. Para o seu tempo, sua obra Nosographie Philosophique ou Méthode de l'analyse appliquée à la médecine ("Classificação filosófica das doenças ou método de análise aplicado à medicina”), de 1798, continha descrições precisas e simples de várias doenças mentais, com o conceito novo de que a cada doença era "um todo indivisível do começo ao fim, um conjunto regular de sintomas característicos".
Pinel aboliu tratamentos como sangria, purgações, e vesicatórios, em favor de uma terapia que incluía contacto próximo e amigável com o paciente, discussão de dificuldades pessoais, e um programa de atividades dirigidas. Preocupava também com o treinamento adequado do pessoal auxiliar e com a competência das instituições.
Seu Traité médico-philosophique sur l'aliénation mentale ("Tratado médico-filosófico sobre a alienação mental ou mania") cuja primeira edição apareceu em 1801, está centrado sobre a psicose maníaca a qual considerava a doença mental mais típica e a mais freqüente. Além disso, detalha seu método psicologicamente orientado e tornou-se um clássico da psiquiatria. Na segunda edição desta obra, em 1809, ele acrescenta duas centenas de novas páginas para descrever sua experiência em Bicêtre e em La Salpêtrière. Ele percebeu que havia sempre traços de razão no alienado, capaz de permitir uma terapia pelo diálogo. Salienta o interesse de um tratamento humano para os doentes mentais e insiste nas relações deste com o meio familiar e com os outros doentes, e no papel do médico na administração hospitalar para cortar o círculo infernal que leva à perpetuação e ao agravamento da doença mental. Para ele o tratamento medicamentoso era secundário, uma atitude que lhe vinha certamente de observar a ineficácia da farmacologia de seu tempo.
Uma geração de especialistas em doenças mentais, liderada por Jean Etienne Dominique Esquirol (1772-1840), foi educada em La Salpêtrière e disseminou as idéias de Pinel pela Europa. Esquirol sucedeu a Pinel na Salpêtrière.
Graças a suas iniciativas, a França tornou-se líder no tratamento dos doentes mentais em sua época. Em 1804 Napoleão concedeu-lhe a Legião de Honra no grau de Cavaleiro, e, em 1805, o nomeou Médico do Imperador. Após a Restauração, recebeu a Ordem de Saint-Michel em 1818; porém, por motivos políticos, foi destituído de seu cargo de professor em 1822.
Pinel foi eleito para a Académie des Sciences de Paris em 1804, e membro da Academia de Medicina desde sua fundação em 1820.

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